01/12/2024

A morte - por Éliphas Lévi



"Nós ficamos tristes muitas vezes ao pensar que a vida mais bela deve terminar e a aproximação desse terrível fim desconhecido que chamamos de morte nos desgosta de todas as alegrias da existência.

Por que nascer, se devemos viver tão pouco? Por que educar com tanto cuidado crianças que morrerão? Eis o que pergunta a ignorância humana em suas dúvidas mais frequentes e mais tristes.

Eis também o que pode perguntar a si mesmo vagamente o embrião humano ao se aproximar desse nascimento que vai lançá-lo num mundo desconhecido, despojando-o de seu envoltório preservador. Estudemos o mistério do nascimento e teremos a chave do grande arcano da morte.

Lançado pelas leis da natureza no seio de uma mulher, o espírito encarnado desperta-se lentamente e cria para si, com esforço, órgãos indispensáveis mais tarde, mas que, à medida que crescem, aumentam seu mal-estar na situação presente.

O tempo mais feliz da vida do embrião é aquele em que, sob a simples forma de uma crisálida, estende ao redor de si a membrana que lhe serve de asilo e que nada com ele num fluido alimentador e conservador.

Então, ele, livre e impassível, vive a vida universal e recebe a impressão das recordações da natureza que determinarão, mais tarde, a configuração de seu corpo e a forma dos traços de seu rosto. Esse tempo feliz podia ser chamado a infância do embrionato.

Vem depois da adolescência, a forma humana se torna distinta e o sexo se determina, um movimento se opera no ovo materno semelhante aos vagos sonhos da idade que sucede a infância.

A placenta, que é o corpo externo e real do feto, sente germinar em si alguma coisa desconhecida que já tende a escapar-se, rompendo-a. 

A criança então entra mais distintamente na vida dos sonhos, seu cérebro invertido, como um espelho do de sua mãe, reproduz com tanta força as imaginações dela que comunica a forma destas aos seus próprios membros.

Sua mãe é para ele então o que Deus é para nós, é uma providência desconhecida, invisível, a qual ele aspira, a ponto de identificar-se com tudo o que ela admira. 

Prende-se a ela, vive por ela e não a vê, nem mesmo poderia compreendê-la e se pudesse filosofar, talvez negaria a existência pessoal e a inteligência dessa mãe que, para ele, ainda não é mais que uma prisão fatal e um aparelho conservador.

Contudo, pouco a pouco essa escravidão o incomoda, ele se agita, atormenta-se, sofre, sente que sua vida vai acabar. 

Chega um momento de angústia e de convulsão, seus laços se desligam, sente que vai cair no abismo do desconhecido. 

De repente, cai; uma sensação dolorosa o aperta, um frio estranho se apodera dele, dá um último suspiro, que se muda em um primeiro grito; morreu a vida embrionária, nasceu à vida humana!"

 

Éliphas Lévi no leito de morte




Fonte:

https://agazetadoamapa.com.br/coluna/3801/a-morte--por-eliphas-levi

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Um dos Princípios do Caminho Óctuplo de Buda era:
Palavra Correta.